quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Salvação

Estou na rua, sozinho, numa noite de chuva. Oiço passos ao longe, olho em redor e não vejo ninguém. São os passos da minha felicidade, bem longe do meu corpo, da minha alma. Sento-me num canto escuro, sinto as minhas roupas a ficarem molhadas, mas nem me importo, á muito que o desconforto físico se tornou secundário. A dor psicológica é o principal, pois mesmo com todos os tratamentos do mundo, ela teima em não desaparecer. Penso que talvez seja tudo de mim, que eu não esteja tão mal como penso, mas não, a realidade abate-se sobre mim e eu só desejo ter outra oportunidade. Levanto-me, corro o mais rápido possível para longe daquele lugar, para longe da dor, para longe da vida. Tropeço numa pedra e caio. Sinto o sabor do sangue na minha boca, abro os olhos e vejo que estou de novo no mesmo buraco, perseguido por uma escuridão que teima em se apoderar do meu ser. Levanto-me, limpo o sangue que me escorre dos lábios, e encosto-me a uma parede. Exausto, adormeço, com todo o peso do mundo sobre mim. De manhã, acordo. O dia está outra vez chuvoso. Decido que é hoje que me vou reerguer. Levanto-me, meto o meu melhor sorriso, e entro no bar mais próximo. O ambiente é assustador e escuro. Estão uns homens sentados ao balcão, a contar piadas obscenas, e eu oiço um nome, o nome dela. Não aguento e lanço-me a eles com a força de mil homens, mas a minha raiva não supera a minha fraqueza física derivada de vários dias sem comer, e passado alguns instantes sou escorraçado como um cão. Finalmente percebo que não era o nome dela que eles falavam, eles nem a conhecem! Parece que estou pior do que penso… Ando por umas horas, errante, a chuva torna a cair. Só queria um sítio para passar umas horas, alguém que me ama-se. Vejo-te ao longe, a minha salvação. De repente, o Sol fura as nuvens e o dia torna-se perfeito. Tu vens para perto de mim e beijas-me. Estou salvo.

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