Estou
na rua, sozinho, numa noite de chuva. Oiço passos ao longe, olho em
redor e não vejo ninguém. São os passos da minha felicidade, bem longe
do meu corpo, da minha alma. Sento-me num canto escuro, sinto as minhas
roupas a ficarem molhadas, mas nem me importo, á muito que o desconforto
físico se tornou secundário. A dor psicológica é o principal, pois
mesmo com todos os tratamentos do mundo, ela teima em não desaparecer.
Penso que talvez seja tudo de mim, que eu não esteja tão mal como penso,
mas não, a realidade abate-se sobre mim e eu só desejo ter outra
oportunidade. Levanto-me, corro o mais rápido possível para longe
daquele lugar, para longe da dor, para longe da vida. Tropeço numa pedra
e caio. Sinto o sabor do sangue na minha boca, abro os olhos e vejo que
estou de novo no mesmo buraco, perseguido por uma escuridão que teima
em se apoderar do meu ser. Levanto-me, limpo o sangue que me escorre dos
lábios, e encosto-me a uma parede. Exausto, adormeço, com todo o peso
do mundo sobre mim. De manhã, acordo. O dia está outra vez chuvoso.
Decido que é hoje que me vou reerguer. Levanto-me, meto o meu melhor
sorriso, e entro no bar mais próximo. O ambiente é assustador e escuro.
Estão uns homens sentados ao balcão, a contar piadas obscenas, e eu oiço
um nome, o nome dela. Não aguento e lanço-me a eles com a força de mil
homens, mas a minha raiva não supera a minha fraqueza física derivada de
vários dias sem comer, e passado alguns instantes sou escorraçado como
um cão. Finalmente percebo que não era o nome dela que eles falavam,
eles nem a conhecem! Parece que estou pior do que penso… Ando por umas
horas, errante, a chuva torna a cair. Só queria um sítio para passar
umas horas, alguém que me ama-se. Vejo-te ao longe, a minha salvação. De
repente, o Sol fura as nuvens e o dia torna-se perfeito. Tu vens para
perto de mim e beijas-me. Estou salvo.
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